quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A EVOLUÇÃO HUMANA ENQUANTO NARRATIVA

Para quem tem pedido mais de Roger Lewin: Evolução Humana, São Paulo: Atheneu Editora, 1999. As idéias e pontos de vista pertencem ao autor do livro.


Missia Landau, antropóloga da Universidade de Boston analisou o componente narrativo dos relatos sobre a Origem do Homem. Ela identificou diversos elementos na paleoantropologia que são particularmente suscetíveis a serem lançados na forma narrativa, tanto por aqueles que contam histórias como por aqueles que as ouvem. A paleoantropologia depara-se com uma sequência de eventos que ao longo do tempo transformaram símios em seres humanos. A descrição desta sequencia tende a cair na forma de narrativa. Outro ponto importante, é o fato de nós mesmo acharmos mais interessantes histórias sobre nós mesmos do que sobre outras coisas.
Tradicionalmente os paleoantropólogos têm reconhecido 4 eventos fundamentais na evolução humana:
  1. A origem da terrestrealidade: passando das árvores para o chão;
  2. A bipedia: andar ereto;
  3. A encefalização: aumento do volume do crânio em relação ao corpo;
  4. Cultura: ou civilização
Os paleoantropólogos discordam da ordem em que ocorreram.
 

DARWIN
1. Terrestrealidade
2. Bipedia
3. Encefalização
4. Civilização
KEITH
1.  Bipedia ocorreu, ainda no modo de vida arbóreo.
2.  Terrestrealidade
3.  Culturalização
4.  Encefalização
ELLIOT SMITH
1.  Encefalização, deu origem à caminhada;
2.  Bipedia, ainda no modo de vida arbóreo;
3.  Terrestrealidade;
4.  Civilização.
WOOD JONES
1.  Bipedia, no modo de vida arbóreo;
2.  Encefalização;
3.  Terrestrealidade;
4.  Civilização.
OSBORN
1. Terrestrealidade;
2. Bipedia;
3. Encefalização;
4. Civilização.
GREGORY
1. Terrestrealidade;
2. Civilização, com a utilização de ferramentas.
3.  Bipedia;
4.  Encefalização.



Henry Fairfield Osborn, diretor do Museu Americano de História Natural: nas primeiras décadas deste século, acreditava nesta ordem que quase coincidia com a de Darwin.
Segundo Missia Landau, se você observar o componente narrativo nestas estórias você verá que elas são nada mais do que histórias sobre o homem. Em sua análise Landau recorreu a um sistema idealizado pelo literato russo, Vladimir Propp. O sistema foi publicado no livro “Morfologia do Conto Folclórico” e continha 31 estágios que relatavam o mito do herói. Landau reduziu os estágio à nove, mas manteve a sua estrutura geral: o herói aparece; o herói é desafiado; o herói triunfa.
No caso da origem do Homem, o símio na verdade é o herói que está destinado a tornar-se nós. O clima modifica-se, tal qual a floresta, e o herói é lançado na savana onde se depara com novos e terríveis perigos. Ele luta para vencê-los, desenvolvendo a inteligência, aprendendo a utilizar ferramentas, e assim por diante, e finalmente emergente triunfante, reconhecível como eu e você.
Somente os seres humanos têm sido considerados como produto da evolução – na verdade, o propósito maior da evolução. Porém a maioria das autoridade no assunto deixavam transparecer o sentimento de veneração ao herói de sua prosa.
Na época de Sir Elliot Smith, os símios eram tidos como fracassos evolutivos, depois eles passaram a ser vistos como seres que pouco mudaram em relação ao seu ancestral comum que compartilhavam com o homem. O homem aqui era visto como seres muito mais avançados. Atualmente ambos são vistos como seres que apresentam características evolutivamente avançadas e diferem igualmente (mas de formas distintas) do seu ancestral comum.
Os paleoantropólogos tendem a descrever a transformação de símio em ser humano como se cada evento fosse de alguma forma, a preparação para o seguinte. Mesmo tendo sido apresentado de maneira simplista, este tipo de raciocínio ainda perdura nos dias atuais. Para Landau, contar histórias “consiste em criar relações entre eventos”. Esses eventos só possuem esse valor para que possamos compreender o curso da evolução humana.
A evolução ocorre de modo descontínuo e imprevisível, mudando abruptamente de uma espécie para outra. Cada espécie é bem sucedida adaptativamente e persiste por um período considerável de tempo, antes que uma rápida mudança evolutiva, talvez impulsionada por forças externas produza uma nova espécie com uma nova adaptação. Desta forma o conteúdo narrativo destes eventos nada mais faz do que nos localizar na evolução humana.
Landau, acrescenta ainda que existe uma tendência em explicar as teoria evolutivas definir as origens em termos de meios e fins, quando na verdade os cientistas devem avaliar o conteúdo narrativo que ele utilizam para contar essas histórias. Entre essas histórias existem muitas assunções não ditas que devem ser levadas em consideração.

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