terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A ORIGEM DA BIPEDIA

Para melhor entendermos esse processo evolutivo do homem decidi falar um pouco sobre a bipedia. Para os interessados, procurem o livro do Roger Lewin Evolução Humana.
Os antropólogos sempre buscaram respostas para a bipedia. Eles queriam que mesma fossem explicada através de uma qualidade especificamente humana, mas isso tornaria todo o processo muito subjetivo. Tendo em vista que a evolução ocorreu em padrão mosaico, as características pertencentes ao hominíneos como: andar ereto, redução dos caninos e incisivos, elaboração de uma cultura material, e um aumento significativo do cérebro haveriam de ter ocorrido em tempos separados ao longo da evolução da espécie.
A Biomecânica da bipedia
A bipedia com passos longos presente nos seres humanos envolve uma sequência de uma série de ações – a fase de ginga e a fase postural – na qual uma perna alterna-se com a outra.
Fase de ginga: a perna é impulsionada utilizando-se a força do dedão do pé; ela se desloca sob o corpo em uma posição ligeiramente flexionada, e finalmente, estende-se quando o pé novamente entra em contato com o chão, primeiro com o calcanhar – Toque do calcanhar.
Fase postural: após o toque do calcanhar, a perna permanece estendida e fornece suporte ao corpo, enquanto a outra perna entra na fase da ginga, com o corpo continuando a mover-se para frente.
Características que diferenciam os seres humanos dos chimpanzés:

SERES HUMANOS
CHIMPANZÉ
JOELHO: pode ser “travado” na posição estendida durante a fase postural, minimizando deste modo, a força muscular para sustentar o corpo. O ângulo da coxa com o joelho (o ângulo valvus) é inclinado medialmente, os dois pés em descanso são normalmente posicionados muito próximos ao eixo central do corpo
JOELHO: São incapazes de estender sua junta do joelho para produzir uma perna ereta – na fase postural. A posição constantemente flexionada da perna implica que, na fase de ginga, em nenhum momento a perna é impulsionada pelo dedão do pé e não ocorre o toque do calcanhar
CENTRO DE GRAVIDADE: O ângulo da coxa com o joelho (o ângulo valvus) é inclinado medialmente, os dois pés em descanso são normalmente posicionados muito próximos ao eixo central do corpo. Assim durante cada fase do andar, o centro de gravidade do corpo não precisa oscilar muito lateralmente
CENTRO DE GRAVIDADE: durante cada fase de ginga, o centro de gravidade do corpo deve passar para a perna de suporte. Os ossos da coxa são inclinados medialmente em relação ao joelho; assim, os pés estão normalmente posicionados bem distantes um do outro. Os músculos adutores do glúteo não são extremamente desenvolvidos. Portanto, durante o andar bípede, o animal tem de deslocar a parte superior do corpo substancialmente de um lado para o outro a cada passo, de modo a colocar o centro de gravidade sobre a perna que sustenta o peso. O centro de gravidade nos chimpanzés é mais alto, em relação à junta do quadril, do que nos seres humanos.
ADAPTAÇÃO:
A anatomia é exclusivamente uma adaptação terrestre, apenas dos primeiros hominíneos também demonstrarem alguma adaptação à vida arbórea.
ADAPTAÇÃO:A anatomia representa uma negociação entre uma adaptação para subir em árvores e para terrestrialidade (predominantemente andando sobre os nós dos dedos).


O conjunto de adaptações anatômicas que constituem a base da bipedia dos seres humanos é extenso, incluindo os seguintes caracteres:
· Uma base curva da coluna vertebral;
· Uma pelve mais curta e mais larga e um fêmur em ângulo, ambos providos de uma musculatura reorganizada;
· Membros inferiores alongados e com as superfícies das juntas ampliadas;
· Uma junta do joelho que pode ser estendida;
· Um pé com forma de plataforma no qual o dedão aumentado fica paralelo aos demais dedos do pé; e
· Um deslocamento do forame magno (através do qual a espinha dorsal penetra no crânio em direção ao centro do basicrânio).
Levando-se em consideração que a evolução é um processo e como tal, leva milhões de anos, a bipedia não ocorreu abrupamente, nem muito menos tornou um quadrúpede em um bípede. Isso porque ocorreu do deslocamento vertical em saltos (nos prossímios) para o quadrupedalismo (nos macacos e símios e a braquiação (nos símios).
O habitat dos primeiros hominíneos foi concebido como sendo um bosque relativamente aberto e até mesmo uma savana. Os primeiros hominíneos (Ardipithecus ramidus e Australopithecus anamensis) podem ter evoluído sob circunstâncias ecológicas similares às típicas para os símios viventes e extintos.
Nos anos 60, o cenário incipiente do “Homem caçador” encontrou uma vantagem adicional à bipedia: ela oferece resistência, em relação aos quadrúpedes que correm velozmente, quando perseguindo ou matando uma presa. Esta ideia de resistência foi fortalecida na teoria do Homem Carniceiro quando o mesmo seguia os rebanhos quando migravam e se alimentavam das carcaças ou de velhos enfermos.
Até aproximadamente 1,8 milhão de anos a dieta dos primeiros hominíneos foi basicamente vegetariana, ou seja até a origem do Homo erectus.
Outras explicações oferecidas para a origem da bipedia:
  • Evitar predadores com maior eficiência, uma vez que um bípede seria capaz de ver mais longe através de uma “planície aberta” do que o quadrúpede;
  • Display ou aviso;
  • Uma mudança na dieta, como alimentar-se de sementes; e
  • Carregar coisas.
A hipótese da Mulher Coletora: Baseada na ideia de carregar coisas foi um desafio ideológico aberto ao modelo do “homem caçador”. Os machos aqui possuem um papel secundário, porque as fêmeas são ligadas aos seus filhotes; um sistema como este teria sido um contínuo com as estruturas sociais da maioria dos outros grandes primatas. Foi o que aconteceu com a monogamia no gibão, poliginia de um macho no gorila, poliginia de multi machos no chimpanzé e poliginia de um macho espalhada no orangotango. Como as fêmeas precisam percorrer distâncias significativas para se alimentar e alimentar os filhotes, elas geralmente usavam ferramentas de madeira para alcançar o alimento e ainda carregavam os filhotes na coleta. Então a bipedia teve uma vantagem seletiva. Esta hipótese é mais conservadora do que a do “homem caçador” porque os primeiros hominíneos são vistos basicamente similares aos símios, ao invés de já serem essencialmente humanos. Contudo, esta hipótese centra-se na necessidade de carregar coisas: especificamente, alimentos para compartilhar com os filhotes.
A hipótese do Homem Provedor: o macho sai para a coleta de suprimentos de retorna ao seu “home base” dividindo-o com a sua fêmea e seus filhotes. Proposta por Owen Lovejoy em 1981, para alimentar a sua fêmea e os seus filhotes, o macho precisaria saber que os filhos lhe pertenciam para isso foi estabelecido aqui a fidelidade sexual entre o casal. Este padrão de “abastecimento” permitiria às fêmeas se reproduzirem a intervalos mais curtos, o que criava uma vantagem seletiva em relação a outros grandes hominoides, os quais estavam se reproduzindo a uma taxa perigosamente baixa. Esta hipótese foi intensamente questionada. Uma linha crítica baseou-se nos cálculos que procuravam demonstrar que grandes hominoides estavam em grande desvantagem reprodutiva em comparação com os seres humanos. Outros apontaram que se os primeiros hominíneos fossem realmente monogâmicos, então seria muito difícil explicar o altíssimo grau de dimorfismo sexual quanto ao tamanho do corpo presente nestas criaturas, dado que o que se sabe acerca dos sistemas sexuais e a estrutura social dos primatas.
A Energética da Bipedia: Possíveis Implicações Para a Sua Origem
Peter Rodmam e Henry Mchenry da Universidade da Califórnia, em Davis: A bipedia evoluiu não como parte da mudança na natureza da dieta ou da estrutura social, mas meramente como um resultado de uma mudança na distribuição dos recursos alimentares existentes. Como no Mioceno houve uma dispersão dos suprimentos, se necessitaria de mais energia para os deslocamentos, por isso a evolução da bipedia. Em termos de eficiência energética, a bipedia é mais eficiente do que o quadrupedalismo numa caminhada por exemplo, mas não o é em altas velocidades. Recursos alimentares mais dispersos produziram essa pressão seletiva. Para Isbell e Young os hominoides foram forçados a tornarem-se mais eficientes na exploração de alimentos. Para que isso ocorresse necessitaria que houvesse uma mudança no grupo já que grupos maiores representariam buscar alimento mais longe em maior quantidade do que grupos menos. Essa nova estratégia, utilizada principalmente pelos chimpanzés, pode ser explicada da seguinte maneira: escassez de alimento grupos maiores, alimentos em abundância grupos menores. As duas estratégias são utilizadas por gorilas e chimpazés. A análise de Isbell e Young coloca a bipedia em um novo contexto ecológico-evolutivo geral de diferentes adaptações comportamentais por parte dos hominoides africanos às mesmas circunstâncias ambientais.

Karen Stuedel da Universidade de Winconsin afirma que muitos estudiosos não acreditam que ancestrais comuns dos símios africanos e dos seres humanos andavam sobre os nós dos dedos. Tendo em vista o seu questionamento, ela propôs que os achados no esqueleto pós-craniano dos primeiros hominíneos diferia daqueles dos seres humanos modernos, especificamente quanto a possuir algum grau de arborealidade. Para ela a eficiência energética da locomoção bípede nestas criaturas era inferior à dos seres humanos modernos, que serviu de base para os cálculos de gasto energético.
Peter Wheeler postula que a bipedia foi uma adaptação termoregulatória já que, como a postura ereta se pega menos sol ao meio-dia quando se coleta alimento. Para ele a perda de pelos foi ocasionada pelo fato da necessidade de transpiração do corpo devido ao estresse térmico. Um bípede consome quase a metade de líquido do que um quadrúpede. Com o tamanho do corpo maior ou de alta estatura, como ocorreu na linhagem do Homo erectus, aumento a eficiência locomotora e termoregulamentora, possibilitando que a espécie buscasse por recursos em territórios mais amplos.
Nina Jablonski centrava-se na postura e acreditava que nas demonstrações de agressividade, onde os indivíduos permanecem sobre seus membros inferiores quem fosse o maior, mais imponente pareceria.
Kevin Hunt postulou que o comportamento bípede estava relacionado ao momento em que o animal alimentava-se parado, somente mais tarde isso se tornou uma adaptação à locomoção.
OBS.: A bipedia surgiu em um ambiente de bosque ou floresta.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

CRÔNICA DO DIVÓRCIO

Recebi por e-mail de uma amiga e vale à pena... Não é meu mas vale demais ser postado.

Xico Sá escreve para o site yahoo: http://br.noticias.yahoo.com/s/27112009/11/entretenimento-modos-macho-mulheres-dizem.html


"Como se dizia mui antigamente, deu na imprensa, reproduzo: as mulheres estão pedindo mais a separação do que os homens. Coisa séria. Reflita: dados sobre registro civil divulgados na última quarta-feira (25/11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, em 2008, 71,7% das separações não consensuais - ou seja, um quer, mas o outro não - foi pedido por mulheres.


Aproveito e reabilito uma velha tese. Velha, porém minha. Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto final.


Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: "Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar..." Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro da convivência. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

 
Sem reticências...


Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita. O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O macho pode até fugir para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor. Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro. O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem no Crato...nem em Estocolmo.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o "the end" sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava. O mais frio, o mais "cool" dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo. O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.


& MODINHAS DE FÊMEA


Chama a atenção na mesma pesquisa, citada na cumeeira desta crônica, como as gaúchas, em parelha com as catarinenses, são as mulheres que mais buscam na Justiça a separação. Só na Paraíba, mulher-macho-sim-senhor, os homens são maioria no mesmo tipo de atitude legal, porém dolorosa, barraquista e cruel.
Faz favor, seu garçom, tem aquela clássica de Jane e Herondy? Sim, "não se vá", toca pra gente, play it again, Sam! Aumenta o volume que estou caindo fora. Beijos e até a próxima."

A CHAVE É MAIS TOLERÂNCIA

Fora os pés inchados, como sempre, adoro viajar. Nesta manhã na capital do Ceará, deparei-me logo às 05:00 h da manhã (esqueci de dizer: feliz ou infelizmente acordo e durmo com as galinhas) com a Revista Vida Simples. Não tem nada de autoajuda se foi o que vocês pensaram, ou que era uma revista sobre decoração. Vida Simples, tem como slogan: para quem quer viver bem mais e melhor, é uma revista que fala sobre viver bem, nada de naturalismo, vegetarianismo, simplesmente sobre viver bem. Na edição 84 do mês de outubro, encontrei uma reportagem com texto de Débora Didoné e ilustrações de Renato Faccini que vale à pena ser discutida aqui. Eu e você: NóS2 (pág 36 a 41)j0430628
A reportagem fala sobre os relacionamentos atuais, como as pessoas estão mais individualistas tanto o homem como a mulher. Lembrando da minha última postagem sobre o divórcio essa discussão aqui vai longe mesmo... Segundo Denise Gimenez Ramos, especialista em psicologia clínica da Pontífica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ela afirma que o sujeito busca “inteireza nas coisas que o cerca”, para ela, “as pessoas se casam atraídas pela singularidade do outro”. E é aqui que chegamos no capitalismo selvagem, porque segundo a reportagem, as pessoas estão cada vez menos abrindo mão do que elas gostam em nome do amor. Pode parar para pensar que você vai encontrar alguém que prove esta teoria. Consegui me lembrar de vários casos bem próximos a mim. São essas diferenças que tornam o relacionamento melhor, pois os envolvidos devem respeitar essa singularidade que é importantíssimo para inclusive se manter um casamento. De acordo com o estudo da PUC-RJ Casamento Contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade, a especialista em Terapia Familiar e de casal Terezinha Féres-Carneiro assegura que em um relacionamento um e um são três. Isso porque o casal é uma junção de “2 sujeitos, 2 percepções de mundo e 2 projetos de vida que convivem com uma relação amorosa, um identidade conjugal e um projeto de vida de casamento”. Segundo a terapeuta, esse é o grande dilema dos casais de hoje em dia. Saber lidar com todas essas situações é muito difícil, principalmente porque as pessoas não se aprofundam no relacionamento e quando chegam aos 10 anos de casados optam pelo divórcio.
E como já postado anteriormente quem tem pedido mais separação: as mulheres! Estaremos nós menos tolerantes do que os homens, ou eles é que pararam no tempo e não nos acompanharam? Alguém se habilita? Depois do impacto das mulheres serem as maiores em pedir o divórcio várias teorias já saíram por aí. Coisas do tipo: “homem é um bicho que não presta mesmo, não tem coragem nem para colocar um ponto final no relacionamento, empurra tudo com a barriga mesmo!; “isso deve acontecer porque eles traem tanto que as mulheres não aguentam mais, porque se deixar, eles continuaram fazendo isso sempre!”... Mais alguém se habilita?
O ser humano não nasceu para viver só. Por isso a necessidade de se ter amigos e convivência com outras pessoas, isso de certa forma completa a existência do sujeito. Através deles j0438752nós temos um “aconchego intelectual”, segundo Flávio Gikovate. No caso do amor, a necessidade é diferente. “Nós queremos é um colo materno, uma referência que fica registrada no nosso subconsciente. Com o tempo e com a manifestação da sexualidade, essa sensação volta a definir as relações de um adulto.” Os relacionamento modificaram-se tal qual a sociedade. Ninguém mais vive só para o amor. Isso parece uma novela mexicana... O relacionamento com o tempo torna-se enfadonho, sem graça. Para isso os envolvidos precisam ter um convívio prazeroso para além do apenas amar, aproveitar os projetos de vida mais voltados para as atividades lúdicas.

Ao entrar em um relacionamento é preciso reconhecer como anda a sua autoestima. Isso porque podemos colocar no outro a “resolução” dos nossos problemas, como se o outro fosse capaz de resolvê-los. Segundo Cláudya Toledo, não há mais espaço nos relacionamentos para pessoas que não sejam autossuficientes. Também não há espaço para quem se deixa dominar pelo parceiro. Estar com os amigos é vital para o relacionamento, principalmente porque as amizades perduram mais do que o casamento. Antigamente as mulheres cediam e acatavam as vontades dos maridos, hoje a realidade é bem diferente. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, sendo ela muitas vezes a provedora da família, os pontos de vista mudaram bastante. O lugar da mulher no casamento modificou-se. Sabe-se que o ser humano é cheio de fraquezas e precisamos aprender a lidar com isso. Relacionamento antes de mais nada é ter um boa amizade com alguém que lhe completa. E viva as diferenças!

CORPOS, CÉREBROS E ENERGIA


Mais uma de Roger Lewin...
Aqui nós iremos discutir sobre o impacto do tamanho – tanto do cérebro como do corpo – nas variáveis da história de vida e da ecologia comportamental. O reino animal como um todo emergiu com um vasto espectro de estratégias, variando de espécies (ostras, por exemplo) que produzem milhões de filhotes em sua vida aos quais não é oferecido nenhum cuidado parental, até as espécies (como os elefantes) que produzem apenas um punhado de filhotes ao longo da vida, cada um gerado sozinho e que se torna objeto de intenso cuidado parental.


Primatas como grandes mamíferos
Os mamíferos são limitados na variação dos padrões de história de vida acessíveis a eles: as mães mamíferas são limitas no número de filhotes que podem ser criados com sucesso em função da gestação e amamentação. Contudo, o resultado reprodutivo potencial pode ser relativamente alto se mais de um ninhada for gerada por ano e o tempo de vida durar vários anos.


Harvey e seus colegas concluíram que as diferenças entre as espécies evoluíram como adaptação para explorar diferentes nichos ecológicos. Tal fato está relacionado a um certo tamanho ótimo de corpo, determinado em parte pela habilidade de um animal de coletar e processar os suprimentos alimentares disponíveis.
O sucesso de uma espécie é medido em termos de valor de potencial reprodutivo, o qual é determinado por uma série de fatores da história de vida interrelacionados: maturação, duração da gestação, tamanho da ninhada, duração do período de lactação, intervalo entre os nascimentos e período total de vida.


SELEÇÃO-r

(pequenos primatas: lêmures e camundongos)

SELEÇÃO-K

(grandes primatas: gorilas)

CLIMA
Variável e/ou imprevisível
Bastante constante e/ou previsível; menos incerto

MORTALIDADE
Frequentemente catastrófica. Não direcionada, independe da densidade
Mais direcionada depende da densidade
SOBREVIVÊNCIA

Alta mortalidade juvenil
Mortalidade mais constante
TAMANHO POPULACIONAL

Variável ao longo do tempo, sem equilíbrio; em geral bem abaixo da capacidade de suporte do ambiente; comunidades ou porções delas, não saturadas; vácuos ecológicos; recolonização a cada ano
Bastante constante ao longo do tempo, em equilíbrio, ou próximo à capacidade de suporte do ambiente; comunidades saturadas; nenhuma recolonização necessária
COMPETIÇÃO INTRA E INTER-ESPECÍFICA
Variável, frequentemente frouxa
Em geral intensa



Desenvolvimento rápido

Taxa máxima de crescimento
Reprodução precoce

Tamanho pequeno do corpo
Reprodução única
Muitos filhotes pequenos
Desenvolvimento mais lento

Maior habilidade competitiva
Reprodução tardia
Tamanho grande de corpo
Reprodução repetida
Filhotes maiores e em menor número
SELEÇÃO FAVORECE
Pequena em geral menos de 1 ano
Mais longa, em geral mais de 1 ano

LEVA A
Produtividade
Eficiência


Estratégias Altricial e Precoce
 


ALTRICIAL
PRECOCE
FILHOTES


Extremamente imaturos que são incapazes de comer e cuidar de si mesmos
São relativamente maduros e podem
GESTAÇÃO
Gestação curta
Relativamente longa
TAMANHO DO CÉREBRO
Pequeno
*não há diferença entre os cérebros dos adultos nas duas espécies
Grande
*não há diferença entre os cérebros dos adultos nas duas espécies

Além da distinção entre vidas rápidas e lentas baseada no tamanho absoluto do corpo, a vida de algumas espécies pode ser ou lenta para seus tamanhos corporais. Tradicionalmente, tais desvios têm sido explicados em termos da teoria clássica de seleção e r e K. Alguns primatas sofrem menor seleção-K do que outros. Caroline Ross, demonstrou que, quando o tamanho do corpo é levado em conta, as espécies de primatas que vivem em ambientes imprevisíveis possuem potencial reprodutivo mais alto do que espécies que vivem em ambientes mais estáveis.
Um segundo fator que influencia se uma espécie pode viver relativamente rápido ou lentamente de acordo com o tamanho do corpo foi identificado por Paul Harvey e Daniel Promislow. Eles descobriram que espécies com taxas de mortalidade mais altas do que o esperado possuíram gestações mais curtas, recém-nascidos menores, ninhadas maiores, bem como desmamavam e amadureciam mais cedo. Espécies com altas taxas de mortalidade natural vivem rápido.

CORPOS, COMPORTAMENTO E ESTRUTURA SOCIAL

AG00208_Como a maioria dos primatas vivem em grupos, pode conclui-se que os benefícios superam os custos. Os indivíduos podem se adaptar comportamentalmente e anatomicamente a diferentes tipos de estruturas sociais.

HOMINÓIDE

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

CARACTERÍSTICAS

GIBÃO

MONOGAMIA

·  São pequenos símios;

·  Modo de vida arbóreo, são altamente acrobáticos;

·  Casal monogâmico de até 3 filhos dependentes;

·  Territorialistas;

·  Dieta de frutas e folhas

·  Quando adultos deixam o grupo natal para formar outro grupo;

·  Possuem basicamente o mesmo tamanho do corpo

·  A monogamia dura a vida toda.

GORILA

POLIGINIA DE UM MACHO

·   São os maiores símios;

Animais predominantemente terrestres;

·  Dieta baseada em folhagem de baixa qualidade encontrada em touceiras dispersas;

·  Grupos de 2 a 20 indivíduos;

·  Sua organização social parece com a do orangotango. Possui um único macho adulto – silverback – que pode acasalar com fêmeas maduras, e suas crias imaturas vivem no grupo. Os machos maduros competem pelo controle do grupo

·  A fêmea adulta geralmente transfere-se para outro grupo de livre escolha

·  Machos possuem o dobro do tamanho das fêmeas.

·  Novos grupos se formam quando um silverback solitário começa a atrair fêmeas maduras.

CHIMPANZÉ

POLIGINIA DE MULTIMACHO

·  Animais terrestres;

·  Arbóreos;

·  Comunidades frouxas de 15 a 80 indivíduos, possuindo machos maduros e fêmeas maduras e suas crias;

·  As comunidades são mantidas por contato casual entre machos e fêmeas. A essência da vida social é uma fêmea e sua cria.

·  Os machos não mantém controle sobre os “home ranges” de um grupo de fêmeas. Um grupo de machos defende o território da comunidade contra machos de comunidades vizinhas;

·  Fêmea copula no cio com vários machos;

·  Machos possuem de 25% a 30% do tamanho das fêmeas.

·  Fêmea transferem-se para outros grupos quando atingem a maturidade;

·  Não há vínculo de parentesco entre as fêmeas;

·  A distribuição dos machos irá depender se eles podem ou não defender o território sozinhos ou precisam da cooperação de outros machos. A cooperação é essencial e é mais efetiva entre parentes.

·  Machos transferem-se para outros grupos ao alcançarem a maturidade

ORANGOTANGO

POLIGINIA

DE UM MACHO ESPALHADA

·  Maior do que o gibão;

MModo de vida arbóreo;

Possui uma única fêmea madura e sua cria dependente, eles ocupam um “home range” que geralmente sobrepõe-se àquele de uma ou mais fêmeas maduras e seus filhotes;

Machos solitários que ocupam um território onde existem vários “home range”, de várias fêmeas maduras com as quais acasala, isto é um macho acasala com várias fêmeas.

Possuem o dobro do tamanho das fêmeas;

Defendem o seu território da entrada de outros machos;

Não há vínculo de parentesco entre as fêmeas.

A distribuição dos machos irá depender se eles podem ou não defender o território sozinhos ou precisam da cooperação de outros machos. Porém, a defesa pode ser feita por um único macho


Entre os primatas, os machos permanecem em seu grupo natal enquanto as fêmeas adultas deslocam-se ou são raptadas. Os machos que geralmente defendem a sua comunidade possuem, em geral um grau de parentesco entre si.
Causas da Organização Social
Para cada espécie, um tipo de interação deve ocorrer entre a sua herança filogenética básica – sua anatomia e fisiologia – e fatores fundamentais no ambiente. Assim as espécies provavelmente irão reagir diferentemente aos mesmos fatores ambientais criando, no mínimo, parte da diversidade observada. Segundo Richard Wrangham da Universidade de Michigan, não existe consenso sobre como a organização social dos primatas evoluiu. Durante 2 décadas as explicações ecológicas foram uma fonte popular de explicações. Uma das explicações mais aceitas foi a defesa da predação. Os machos destas espécies geralmente são equipados com grandes e perigosos dentes caninos. Os dentes podem ter sido selecionados porque provaram-se altamente efetivos em mitigar a ameaça de predação. A distribuição de alimento pode ter sido uma consequência de se viver em grupo. A distribuição de alimento também foi sugerida como um desencadeador de organização social. Wrangham sugere que a distribuição de alimento foi uma influência chave na organização social. Para ele o comportamento da fêmea tem um papel muito importante para o sistema social que evolui dentro do cenário ecológico.
O sucesso reprodutivo das fêmeas está associado à quantidade de filhotes que podem ser criados com sucesso. O acesso aos machos maduros não é um fator limitante como o acesso à comida o é. Machos primatas, assim como outros tipos machos mamíferos, não oferecem nenhum cuidado à sua prole. O sucesso reprodutivo deles é determinado pelo sucesso em ter acesso a fêmeas maduras. Na grande maioria dos primatas, as fêmeas permanecem no grupo e os machos deslocam-se.

Estratégias reprodutivas diferentes:
Para a fêmea o sucesso reprodutivo está ligado ao acesso a alimento.
Para o macho o sucesso reprodutivo está ligado somente a ter acesso a fêmeas maduras.
Essa diferença influencia bastante na estrutura social geral das sociedades primatas.
Sob este aspecto a cooperação entre parentes é bastante comum, já que ajudando a um parente está ajudando a si mesmo, porque eles partilham os mesmos genes.
·      Grupos sociais com várias fêmeas irão se desenvolver em organizações sociais onde os recursos alimentares são discretos e passíveis de defesa. Esses grupos são conhecidos na antropologia como matriciais. Com primatas não humanos um termo melhor seria vínculos de parentesco entre fêmeas.
·      Grupos sociais com vários machos se formarão quando houver necessidade de defesa do grupo quando não for possível a territorialidade e quando houver o aumento crescente do mesmo que não cria maiores problemas. Vários machos podem contribuir na segurança quando houver encontros competitivos ocasionais.
·      A intensa interação social – grooming – ocorrem quando há no grupo vínculo de parentesco entre as fêmeas e menos frequente nos casos onde não há vínculo.
·      Agressão nos grupos com vínculo entre fêmeas deve surgir devido ao acesso a recursos alimentares.
·      Agressão nos grupos sem vínculo ocorre devido ao acesso às fêmeas e os machos são os maiores agressores.
Outra consequência da sociabilidade entre os primatas é o tamanho do corpo, ou dimorfismo. A seleção natural onde ocorre competição entre machos tende a levar ao aumento do corpo. Os dentes caninos exagerados nos machos também pode ser citado. De acordo com esta teoria, nos grupos onde não há competição entre os machos, eles e as fêmeas possuem o mesmo tamanho. Todas as espécies caracterizadas com algum tipo de poliginia são caracterizadas por dimorfismo sexual. Os caninos desenvolvidos também são encontrados em espécies poligínicas. Porém, não se sabe qual a correlação entre grau de poliginia e dimorfismo sexual.
Outras explicações biológicas também são possíveis. Por exemplo, os machos são maiores para garantir a defesa do território contra predadores ou porque tendo corpos de tamanhos diferentes das fêmeas, não brigam entre si pelos recursos alimentares que são distintos. Robert Martin acredita que “fêmeas menores podem acasalar antes”.
O comportamento social completo de uma espécie é produto de uma mistura de causas e consequências do fato de indivíduos se reunirem para coexistir em grupo.