terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A ORIGEM DA BIPEDIA

Para melhor entendermos esse processo evolutivo do homem decidi falar um pouco sobre a bipedia. Para os interessados, procurem o livro do Roger Lewin Evolução Humana.
Os antropólogos sempre buscaram respostas para a bipedia. Eles queriam que mesma fossem explicada através de uma qualidade especificamente humana, mas isso tornaria todo o processo muito subjetivo. Tendo em vista que a evolução ocorreu em padrão mosaico, as características pertencentes ao hominíneos como: andar ereto, redução dos caninos e incisivos, elaboração de uma cultura material, e um aumento significativo do cérebro haveriam de ter ocorrido em tempos separados ao longo da evolução da espécie.
A Biomecânica da bipedia
A bipedia com passos longos presente nos seres humanos envolve uma sequência de uma série de ações – a fase de ginga e a fase postural – na qual uma perna alterna-se com a outra.
Fase de ginga: a perna é impulsionada utilizando-se a força do dedão do pé; ela se desloca sob o corpo em uma posição ligeiramente flexionada, e finalmente, estende-se quando o pé novamente entra em contato com o chão, primeiro com o calcanhar – Toque do calcanhar.
Fase postural: após o toque do calcanhar, a perna permanece estendida e fornece suporte ao corpo, enquanto a outra perna entra na fase da ginga, com o corpo continuando a mover-se para frente.
Características que diferenciam os seres humanos dos chimpanzés:

SERES HUMANOS
CHIMPANZÉ
JOELHO: pode ser “travado” na posição estendida durante a fase postural, minimizando deste modo, a força muscular para sustentar o corpo. O ângulo da coxa com o joelho (o ângulo valvus) é inclinado medialmente, os dois pés em descanso são normalmente posicionados muito próximos ao eixo central do corpo
JOELHO: São incapazes de estender sua junta do joelho para produzir uma perna ereta – na fase postural. A posição constantemente flexionada da perna implica que, na fase de ginga, em nenhum momento a perna é impulsionada pelo dedão do pé e não ocorre o toque do calcanhar
CENTRO DE GRAVIDADE: O ângulo da coxa com o joelho (o ângulo valvus) é inclinado medialmente, os dois pés em descanso são normalmente posicionados muito próximos ao eixo central do corpo. Assim durante cada fase do andar, o centro de gravidade do corpo não precisa oscilar muito lateralmente
CENTRO DE GRAVIDADE: durante cada fase de ginga, o centro de gravidade do corpo deve passar para a perna de suporte. Os ossos da coxa são inclinados medialmente em relação ao joelho; assim, os pés estão normalmente posicionados bem distantes um do outro. Os músculos adutores do glúteo não são extremamente desenvolvidos. Portanto, durante o andar bípede, o animal tem de deslocar a parte superior do corpo substancialmente de um lado para o outro a cada passo, de modo a colocar o centro de gravidade sobre a perna que sustenta o peso. O centro de gravidade nos chimpanzés é mais alto, em relação à junta do quadril, do que nos seres humanos.
ADAPTAÇÃO:
A anatomia é exclusivamente uma adaptação terrestre, apenas dos primeiros hominíneos também demonstrarem alguma adaptação à vida arbórea.
ADAPTAÇÃO:A anatomia representa uma negociação entre uma adaptação para subir em árvores e para terrestrialidade (predominantemente andando sobre os nós dos dedos).


O conjunto de adaptações anatômicas que constituem a base da bipedia dos seres humanos é extenso, incluindo os seguintes caracteres:
· Uma base curva da coluna vertebral;
· Uma pelve mais curta e mais larga e um fêmur em ângulo, ambos providos de uma musculatura reorganizada;
· Membros inferiores alongados e com as superfícies das juntas ampliadas;
· Uma junta do joelho que pode ser estendida;
· Um pé com forma de plataforma no qual o dedão aumentado fica paralelo aos demais dedos do pé; e
· Um deslocamento do forame magno (através do qual a espinha dorsal penetra no crânio em direção ao centro do basicrânio).
Levando-se em consideração que a evolução é um processo e como tal, leva milhões de anos, a bipedia não ocorreu abrupamente, nem muito menos tornou um quadrúpede em um bípede. Isso porque ocorreu do deslocamento vertical em saltos (nos prossímios) para o quadrupedalismo (nos macacos e símios e a braquiação (nos símios).
O habitat dos primeiros hominíneos foi concebido como sendo um bosque relativamente aberto e até mesmo uma savana. Os primeiros hominíneos (Ardipithecus ramidus e Australopithecus anamensis) podem ter evoluído sob circunstâncias ecológicas similares às típicas para os símios viventes e extintos.
Nos anos 60, o cenário incipiente do “Homem caçador” encontrou uma vantagem adicional à bipedia: ela oferece resistência, em relação aos quadrúpedes que correm velozmente, quando perseguindo ou matando uma presa. Esta ideia de resistência foi fortalecida na teoria do Homem Carniceiro quando o mesmo seguia os rebanhos quando migravam e se alimentavam das carcaças ou de velhos enfermos.
Até aproximadamente 1,8 milhão de anos a dieta dos primeiros hominíneos foi basicamente vegetariana, ou seja até a origem do Homo erectus.
Outras explicações oferecidas para a origem da bipedia:
  • Evitar predadores com maior eficiência, uma vez que um bípede seria capaz de ver mais longe através de uma “planície aberta” do que o quadrúpede;
  • Display ou aviso;
  • Uma mudança na dieta, como alimentar-se de sementes; e
  • Carregar coisas.
A hipótese da Mulher Coletora: Baseada na ideia de carregar coisas foi um desafio ideológico aberto ao modelo do “homem caçador”. Os machos aqui possuem um papel secundário, porque as fêmeas são ligadas aos seus filhotes; um sistema como este teria sido um contínuo com as estruturas sociais da maioria dos outros grandes primatas. Foi o que aconteceu com a monogamia no gibão, poliginia de um macho no gorila, poliginia de multi machos no chimpanzé e poliginia de um macho espalhada no orangotango. Como as fêmeas precisam percorrer distâncias significativas para se alimentar e alimentar os filhotes, elas geralmente usavam ferramentas de madeira para alcançar o alimento e ainda carregavam os filhotes na coleta. Então a bipedia teve uma vantagem seletiva. Esta hipótese é mais conservadora do que a do “homem caçador” porque os primeiros hominíneos são vistos basicamente similares aos símios, ao invés de já serem essencialmente humanos. Contudo, esta hipótese centra-se na necessidade de carregar coisas: especificamente, alimentos para compartilhar com os filhotes.
A hipótese do Homem Provedor: o macho sai para a coleta de suprimentos de retorna ao seu “home base” dividindo-o com a sua fêmea e seus filhotes. Proposta por Owen Lovejoy em 1981, para alimentar a sua fêmea e os seus filhotes, o macho precisaria saber que os filhos lhe pertenciam para isso foi estabelecido aqui a fidelidade sexual entre o casal. Este padrão de “abastecimento” permitiria às fêmeas se reproduzirem a intervalos mais curtos, o que criava uma vantagem seletiva em relação a outros grandes hominoides, os quais estavam se reproduzindo a uma taxa perigosamente baixa. Esta hipótese foi intensamente questionada. Uma linha crítica baseou-se nos cálculos que procuravam demonstrar que grandes hominoides estavam em grande desvantagem reprodutiva em comparação com os seres humanos. Outros apontaram que se os primeiros hominíneos fossem realmente monogâmicos, então seria muito difícil explicar o altíssimo grau de dimorfismo sexual quanto ao tamanho do corpo presente nestas criaturas, dado que o que se sabe acerca dos sistemas sexuais e a estrutura social dos primatas.
A Energética da Bipedia: Possíveis Implicações Para a Sua Origem
Peter Rodmam e Henry Mchenry da Universidade da Califórnia, em Davis: A bipedia evoluiu não como parte da mudança na natureza da dieta ou da estrutura social, mas meramente como um resultado de uma mudança na distribuição dos recursos alimentares existentes. Como no Mioceno houve uma dispersão dos suprimentos, se necessitaria de mais energia para os deslocamentos, por isso a evolução da bipedia. Em termos de eficiência energética, a bipedia é mais eficiente do que o quadrupedalismo numa caminhada por exemplo, mas não o é em altas velocidades. Recursos alimentares mais dispersos produziram essa pressão seletiva. Para Isbell e Young os hominoides foram forçados a tornarem-se mais eficientes na exploração de alimentos. Para que isso ocorresse necessitaria que houvesse uma mudança no grupo já que grupos maiores representariam buscar alimento mais longe em maior quantidade do que grupos menos. Essa nova estratégia, utilizada principalmente pelos chimpanzés, pode ser explicada da seguinte maneira: escassez de alimento grupos maiores, alimentos em abundância grupos menores. As duas estratégias são utilizadas por gorilas e chimpazés. A análise de Isbell e Young coloca a bipedia em um novo contexto ecológico-evolutivo geral de diferentes adaptações comportamentais por parte dos hominoides africanos às mesmas circunstâncias ambientais.

Karen Stuedel da Universidade de Winconsin afirma que muitos estudiosos não acreditam que ancestrais comuns dos símios africanos e dos seres humanos andavam sobre os nós dos dedos. Tendo em vista o seu questionamento, ela propôs que os achados no esqueleto pós-craniano dos primeiros hominíneos diferia daqueles dos seres humanos modernos, especificamente quanto a possuir algum grau de arborealidade. Para ela a eficiência energética da locomoção bípede nestas criaturas era inferior à dos seres humanos modernos, que serviu de base para os cálculos de gasto energético.
Peter Wheeler postula que a bipedia foi uma adaptação termoregulatória já que, como a postura ereta se pega menos sol ao meio-dia quando se coleta alimento. Para ele a perda de pelos foi ocasionada pelo fato da necessidade de transpiração do corpo devido ao estresse térmico. Um bípede consome quase a metade de líquido do que um quadrúpede. Com o tamanho do corpo maior ou de alta estatura, como ocorreu na linhagem do Homo erectus, aumento a eficiência locomotora e termoregulamentora, possibilitando que a espécie buscasse por recursos em territórios mais amplos.
Nina Jablonski centrava-se na postura e acreditava que nas demonstrações de agressividade, onde os indivíduos permanecem sobre seus membros inferiores quem fosse o maior, mais imponente pareceria.
Kevin Hunt postulou que o comportamento bípede estava relacionado ao momento em que o animal alimentava-se parado, somente mais tarde isso se tornou uma adaptação à locomoção.
OBS.: A bipedia surgiu em um ambiente de bosque ou floresta.

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